sexta-feira, 10 de julho de 2009

Para ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto :)

4 comentários:

  1. Mia Couto é de grande qualidade. tenho tropeçado em varios textos dele, e todos de muito bom nivel. como este.

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  2. Único ponto menos favorável de Mia Couto: ser um acérrimo defensor dos direitos humanos do povo africano. Dito labregamente: o gajo passa a vida a defender os pretos. Enfim.

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  3. Pena que alguém se refira a um ser humano com "os pretos". Como se foss superior ao outro. Sorte tua ter nascido num país como Portugal. Pena não ter aprendido nada. E olhe que sou brasileiro e nãoportugues. E nada tenho contra "os pretos". Vergonha!
    Quanto ao Mia, nada a acrescentar. O gajo é extraordinário. Angolano de primeira. Parabéns pela escolha da poesia.
    Rangel

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  4. mia couto, nunca desilude, entre em nós com a profundidade mais profunda que a do mar..

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