Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto :)
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Mia Couto é de grande qualidade. tenho tropeçado em varios textos dele, e todos de muito bom nivel. como este.
ResponderEliminarÚnico ponto menos favorável de Mia Couto: ser um acérrimo defensor dos direitos humanos do povo africano. Dito labregamente: o gajo passa a vida a defender os pretos. Enfim.
ResponderEliminarPena que alguém se refira a um ser humano com "os pretos". Como se foss superior ao outro. Sorte tua ter nascido num país como Portugal. Pena não ter aprendido nada. E olhe que sou brasileiro e nãoportugues. E nada tenho contra "os pretos". Vergonha!
ResponderEliminarQuanto ao Mia, nada a acrescentar. O gajo é extraordinário. Angolano de primeira. Parabéns pela escolha da poesia.
Rangel
mia couto, nunca desilude, entre em nós com a profundidade mais profunda que a do mar..
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